quinta-feira, 29 de julho de 2010

+ Return to the past ( II )


História exterior e explícita, sim, mas que contém segredos, a começar por um titulo que eu mesmo dei: "quanto ao futuro", que é precedido por uma virgula e seguido de outra virgula. Isso por quê o futuro da moça em qual descrevo era assim: cheio de virgulhas. Ela nem gostava de pontos finais... Não se trata de um capricho meu- no fim talvez se entenda a necessidade do delimitado. Se ao invés de virgulas o texto se seguisse de um ponto final talvez eu prenderia a imaginação vossas, e nada teria de piedade. A verdade é que também tenho piedade do principal personagem: a moça.
Havia poucas coisas que fascinavam a menina: feminilidade. Ela achava o cumulo mulheres andarem de calça, e de azul. És que numa rua do centro de São Paulo que ela pegou no olhar de relance o sentimento no rosto de uma cigana. Via os vestidos. Via as tendas. E ouvia o pai dizer, severamente "Ciganas são do demônio". Foi a primeira vez que descordou do pai: Como podia? Ciganas? São tão femininas. Tão colorido, tão bonito. Cheias de brincos, de danças, sedutoras ciganas.
Foi que, um dia andando com as primas, encontraram uma cingana. Não parecia tão convencional assim, nem tão feminina. Sentiu medo dela, porém passou a observar. A mulher virou sua mão, e parecia "ler" cada detalhe. Disse assustada: "Sua vida é curta. Você vai morrer mais cedo, mais cedo que elas". A menina não se desesperou: Não via encanto naquela mulher. Tirou rapidamente a mão, sorriu e se foi. Sabe-se lá se acreditou. Mas aquela noite, contou ao pai e disse: são mesmo pai, do demônio. Pois a menina tinha um grande futuro, não importava o que dissessem. A menina tinha de viver. O pai apenas escondeu a preocupação e deu seu leite antes de dormir.
Um dia, o pai passou a observa-la. A garota tinha um grande cabelo cacheado, ela magrinha como se passasse fome (coisa que nunca soubera como é), e era mais alta do que as outras de sua idade. Então, sentiu que devia ser modelo. Isso mesmo, o pai disse: "você deveria ser modelo". E ela passou a frequentar, aos 7 anos, um curso de passarela.
Não pense, caro leitor, que a menina era rica. Os pais não tinham um automóvel, moravam num suburbio, tinha 'N' vizinhos barulhentos e no seu bairro corriam noticias de assalto por toda a parte. Porém, o pai estava correndo atrás do "sonho da filha". Ou o sonho dele, como já perceberam. Ele dizia: um dia você vai me dar orgulho, e tudo isso valerá a pena. E a menina cresceu determinada a dar orgulho ao pai.
Fez alguns desfiles. Tirou algumas fotos. Correu atrás até quando pode. Mas não quis. Tudo aquilo passou a incomoda-la, e construiu ideais. Pensou: daqui em diante só vou fazer o que quero. E fez mesmo, largou tudo. "Pai, não quero ser modelo". E o pai pensava : " Quer ser o que?"
Mas a menina não sabia. Não sabia o que queria. A menina queria viver. A menina queria viver e só.

8 comentários:

  1. Ninguém precisa mesmo de um ideal, apenas viver (...)

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  2. É preciso viver os próprios sonhos e a felicidade será só uma recompensa!

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  3. Nossa, só de ver o nome do blog, já fiquei apaixonado....A hora da estrela - título de um livro da Clarice...amo. Ela é alimento da minha alma.
    Gostei de tudo por aqui...voltarei outras vezes.


    abraços

    de luz e paz


    Hugo

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  4. "E só."
    Uma frase de muito significado para mim.

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  5. Amada eu já vim aqui e deixei comentário.
    Tá tudo bem com vc?
    Um beijo grande e uma exelente semana amada.

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Não gaste teclado: SE NÃO LEU, NÃO COMENTE. Também não tente me enganar: Eu percebo quando a pessoa não leu nada. (Aliás, tem gente que não lê nem isso aqui).