quarta-feira, 16 de junho de 2010

+ Uma dose de felicidade, por favor.


Andava descalça pelas ruas, de cabeça baixa, quase nem se notava sua presença. Passava pelas humildes "casinhas" de argila sem nem olhar para os lados, apenas para o chão. Suas vestes maltrapilhas e seu rosto sujo de areia, sua pele negra e seu cabelo Crespo, quase rastejando o pouco de vida que lhe restava. Via pessoas sorrindo, mas também via destruição e caos. Andava sozinha, solene, olhando aquelas crianças magras e mau vestidas, vendo nos outros aquilo que outrora deixou de acreditar: felicidade.
Tinha em suas mãos alguns trapos sujos e velhos, um saco grande e vazio. Não se lembrava mais da fome que sentia, muito menos do choro das crianças que esperavam em casa ansiosas por um resto de pão.
Tinha metade dela consigo: verbos, poesias, saudades daquela tal felicidade que jamais havia sequer tido o prazer de ter para si, ao menos por um segundo.
Não sabia falar outras línguas, tão pouco frequentara escola, apenas via o mundo com os olhos de poucos, quase não o havia explorado, aquele era o mundo todo para ela: as casinhas de argila, as crianças comendo restos, as meninas carecas e os vestidos maltrapilho que usavam.
Sentiu saudade de quando estava dormindo, não queria acordar... para quê? desperdiçar todo este tempo acordada! Era tão bom descansar , dormir, sonhar. Sonho parece verdade, quando nos esquecemos de acordar. E o dia fica pela metade quando acordamos e esquecemos de levantar... levantar, para ela, era tortura.
Chegou no destino e pela primeira vez abriu um sorriso, ao ver todo aquele resto de comida no chão. A mulher colocou tudo aquilo que podia alcançar no seu saco que antes era vazio. E a fila de pessoas famintas só havia de aumentar... aquela distribuição de restos, e a alegria daquela gente.
A volta para casa foi ainda melhor: sentia-se feliz, finalmente. Poderia alimentar seus filhos, fazer as crianças não chorarem mais. Sim, as crianças! De quê valia a fome dela? Os filhos, os filhos em primeiro lugar.
Não mais olhava para baixo, corria com o saco nas mãos magras e sujas como se tivesse de salvar sua própria vida. "GRAÇAS A DEUS" , pensava ela. Ela não se sentia triste por ter de comer restos, por estar suja, pelos seus cabelos, que seja! Na verdade ela tinha tão pouco, mas estava viva... quantos não estavam tendo esta sorte? Agradecia em pensamento por cada passo dado no caminho de volta.
Mais tarde, ao ver que todas as crianças estavam alimentadas, ela esqueceu que tinha fome, pois a "comida" não era suficiente para toda a sua familia. Olhava os sorrisos das crianças, e lembrou da tal felicidade, voltou a acreditar. Sorriu como nunca, e puderam dormir nas suas camas improvizadas , no chão frio e seco, porém em paz.
Talvez felicidade seja isso mesmo. Um prato de restos de comida, onde nem todos comem, mas, os que te amam vão se sentir felizes em te ver comendo. Talvez aquela pouca "comida" não era nada, mas trouxera mais felicidade aqueles meninos pobres, do que um carro na mão de uma senhora rica.
Quem sabe, se o seu cabelo não ficar liso amanhã, e você se sentir triste por isso, outra pessoa do outro lado do mundo estará dormindo num chão frio, bem feliz, apenas por estar sonhando. Talvez descobrir o verdadeiro sentido das pequenas coisas, é querer saber demais. É querer saber demais... é. Talvez o mundo seja lindo...
Ah... como o mundo é lindo!


PAUTA PARA O PROJETO SILABA TÔNICA 

6 comentários:

  1. Como você escreve! Uma perfeição. Venho aqui e fico me deleitando em suas frases geniais. Vale à pena ler você. Escreva. Escreva sempre.
    Obrigado por ler-me também!
    Beijos!...

    ResponderExcluir
  2. A felicidade se consome
    em doses homeopáticas.

    ResponderExcluir
  3. Um texto carregado de detalhes que faz a gente se sentir dentro da história,perfeito rs.
    Parabéns minha menininha.
    O jogo foi feinho mesmo,tomara que melhore um pouquinho rs.
    Beijokas.

    ResponderExcluir
  4. Pois é amada eu até tenho realizado algum querer e tenho me saido muiiiiiito bem mas existe ocasiões que ñ dá,ñ por falta de força de vontade mas pq ñ sou perfeita rs.
    Beijokas minha flor.

    ResponderExcluir
  5. Que texto marcante ein!!! As vezes não precisamos de muito pra sermos felizes...

    Quanto ao machado de assis e josé de alencar na verdade o que pediram na prova é a semelhança não a diferença...estou curioso agora...

    Hasta luego!!!

    ResponderExcluir
  6. Olá

    Felicidade é uma casinha pequenina , em algum lugar, uma colina....
    Este trecho de uma música fala tudo...
    Bjos
    Laurinha

    ResponderExcluir

Não gaste teclado: SE NÃO LEU, NÃO COMENTE. Também não tente me enganar: Eu percebo quando a pessoa não leu nada. (Aliás, tem gente que não lê nem isso aqui).