segunda-feira, 17 de junho de 2013

(Re)comece.


- Termina logo com isso. Eu só quero ir embora. - Eu disse, e não o encarei. Continuei bebendo o copo d'água que estava em cima da mesa, não por vontade e sim porque estava lá, simplesmente. Minhas mãos suavam e eu tremia um pouco. Continuei olhando para água, dentro da taça. Ouvia os murmúrios dentro do restaurante, e prestava um mínimo de atenção em tudo, para distrair a cabeça e não chorar.
- Você fez por merecer; Não me dá um tempo. - Ele disse, tentando encontrar meus olhos tão dispersos no copo d'água, em tom de bronca - Olha só, você faz um drama doido. Para de olhar para esse copo, caramba!
- Só quero ir embora. Por favor. Me deixa ir. - E não me mexi. Na minha visão só conseguia enxergar o copo d'água e um pedaço do meu novo colete jeans. Me senti por um momento burra, de ter colocado ele, pensando em me encontrar com o cara que estava me dizendo aquelas coisas hoje, no nosso aniversário de  um mês de namoro. A roupa que eu demorei 1 hora e 25 minutos para decidir, passei minunciosamente, cuidei de todos os detalhes, até dos brincos (como se ele reparasse neles).
- Olha, você me sufoca! aquela coisa de ter que dizer que te amo todos os dias, sei lá. - ele continuou dizendo, sem que eu encarasse. 
Decidi não responder mais, e então por 20 segundos se instalou um silêncio. Consegui ouvir pingos de chuva lá fora e a reação foi abrir a bolsa para verificar se estava tudo em ordem, mas percebi que me faltava o guarda-chuva, que combinava com a minha saia. Achei melhor omitir esse fato, porque ele ia começar com o discurso sobre meu desleixo e minha mania de sempre esquecer tudo.
- Ok. Vai embora. Pode ir. Só quero que saiba uma coisa que não achei que fosse importante contar antes mas... - ele fez uma voz expressiva para dizer o à seguir - estou apaixonado pela sua prima. E você sabe... sem ressentimentos. Gostaria que me ajudasse. Não se importaria, não é mesmo? Quer dizer, está sentida?
- Claro que não. - E não esperei pela resposta. Simplesmente me levantei e sai. Enquanto eu passava pela porta, a primeira lágrima rolou em direção a boca, e eu senti o sal nos lábios, misturado com o cheiro de uva do meu gloss. A chuva engrossava cada vez mais e eu percebi que andava meio sem direção, sem rumo. 
Tentei ao máximo achar um ponto de ônibus. "Poderia ele ao menos ter me deixado em casa" pensei. Mas depois lembrei que isso seria ainda mais constrangedor e suspirei. Meu salto enganchou num buraco e quebrou. "Meu sapato novo", lembrei. 
Chovia tanto que me faltava o ar. Sentia a água escorrendo pelo nariz e minha roupa estava completamente molhada. Senti frio. Lágrimas e chuva estavam misturadas. Mas no meio do nada e do escuro, achei uma livraria aberta. Estranhamente não havia quase ninguém lá, nem mesmo se protegendo da chuva. Entrei tomando o cuidado para não encostar em nada;
- Ei, Lais! - Escutei alguém chamar - O que aconteceu? Quer uma carona?
Reconheci o garoto como sendo da faculdade, mas não sabia sequer seu nome. Travei e não consegui responder a principio. Ele segurou meu braço e me olhou bem, bem o suficiente para perceber meu choro. Disse para esperar lá, e parada na sessão de auto-ajuda eu fiquei. Travei de modo que só consegui balançar a cabeça. "Você tem que sair daqui", pensei. Mas não me movi. Então ele voltou do caixa e disse "vem, te dou uma carona". Consegui falar quando ele me questionou onde eu morava. Expliquei mais ou menos mas falei muito mal, de modo que ele tirou o gps do console e disse "Toma, digita o endereço aqui". Com muito tremor acabei conseguindo. Dei a ele e consegui balbuciar as palavras "Estou molhando seu carro". Ele disse "tudo ok. você mora com seus pais?". Consegui o prévio resumo da minha vida pra ele: sozinha, com um sério problema de nervos, agora resfriada e agora solteira. Com essas palavras. Ele apenas riu. 
Cheguei em casa e abri as portas, de modo que ele entrou também, pois não queria me deixar molhar, e ele tinha um guarda-chuva. Minha primeira reação foi deixa-lo sozinho com a casa e ir pro chuveiro. Chorar um pouco mais e finalmente, seca, limpa, menos feia. 
Sai e senti o cheiro de café. Ele achou, achou meu café. Meu agora ex nunca achava meu café. "Pessoas normais guardam café num lugar de café" ele dizia.
Não se sabe como, mas o cara da livraria estava na minha cama, minutos seguintes. De modo que ainda não sei dizer se, por acaso, esse é o dia do fim, ou de um novo começo.

5 comentários:

  1. uaauuu Srt.!! Adorei!! Ah sempre adoro, né?? seus textos são ótimos!
    A gnt teme jogar o velho fora, e é preciso, para dar lugar ao novo. Mas quando o novo aparece e toma o lugar do velho... ah! Aí sim é maravilhoso!! hauahuah
    Muito legal! terminei o texto com cara de UAU mesmo!rsrs

    Bjinhos
    Ju
    asbesteirasquemecontam.blogspot.com.br

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  2. Curti muito!Sou do tipo que quando o texto e meio chato fico pulando frases,mas esse texto prendeu em cada frase.E é romântico sem ser melódico,gostei.

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  3. Simplesmente adorei. Serviu de reflexão para mim (apesar de não estar em nenhum relacionamento). A vida é uma surpresa e quando a gente menos espera, algo fantástico acontece.
    Texto muito bem escrito! Parabéns!

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Não gaste teclado: SE NÃO LEU, NÃO COMENTE. Também não tente me enganar: Eu percebo quando a pessoa não leu nada. (Aliás, tem gente que não lê nem isso aqui).